A morte é fácil, simples... viver é mais difícil. Isso porque basta um segundo, uma distração, um momento para que a vida simplesmente deixe de existir. Viver, porém, requer ações tão complicadas, situações difíceis, renúncias, esforço e sabedoria. Ter uma vida longa não é para qualquer um... a receita seja talvez a simplicidade, o carinho dos parentes e dos amigos e a vontade de viver. E quando um desses ingredientes falta? Bom, aí começa a parte mais amarga de tudo.
Apesar de tudo, pode-se resumir a vida em uma palavra : desafio. Maiores ou menores, eles sempre existem. Precisamos aprender a contorná-los. Ou talvez, só nos acostumarmos com eles. A segunda opção é mais fácil, mas a primeira dignifica o ser humano a tal ponto em que possa ser admirado.
O fato é que a morte me faz pensar muito mais na vida. Alguém acabou... deixou de existir... para sempre... nunca mais escutará uma música. Jamais sentirá novamente o cheiro da comida preferida e muito menos o gosto dela. Nunca mais poderá falar, ver ou ouvir alguém... é uma solidão eterna... em algum lugar do chão. E onde está a vida nisso tudo? Em mim... É vendo alguém próximo morrer que penso em cada momento vivido erroneamente, cada palavra desnecessária, mas também em todos os momentos felizes que eu vivi. É aí que me orgulho, se é que dá pra chamar assim, de ainda poder simplesmente respirar.. pelo fato de significar algo para alguém... por ainda ter a oportunidade de consertar um erro.
Hoje eu perdi alguém que conheci desde sempre.. alguém que estava lá enquanto eu ficava sentada na calçada, com meus quatro anos de idade, apontando as pontas dos meus lápis de cor para outro dia no jardim... alguém que estava lá quando eu não tinha nada pra fazer e ia parar na casa dela.... alguém que já não lembrava mais do meu nome por conta da idade, mas sempre me reconhecia todas as vezes que eu voltava de Teresina.... alguém que nunca me deixava ler tranquilamente meus livros na calçada dela, sempre perguntando pela minha mãe e por minha avó.... alguém que, sem dúvida, deixará um vazio na Rua Inácio Costa.
Sem ela, aquela casinha branca onde vivi tantos momentos felizes da minha vida será apenas um lugar de recordação...
Mas, sem dúvida, para ela valeu a pena.
Esse é o meu adeus para a Dona Esmerinda, mais conhecida como Moça.