quarta-feira, 23 de março de 2011

No últimos meses, graças aos veículos de comunicação, como a internet, muito se tem discutido a cerca da questão ética no nosso município. Essa suposta crise envolve tanto servidores, quanto governantes, quanto os cidadãos comuns. O tema é vasto, mas um escritor chamado José Renato Nalini, no livro Ética Geral e Profissional, faz uma interessante e imprevista análise do assunto.
" Estar no turbilhão dos acontecimentos impede uma análise precisa daquilo que se vivencia. Como será que os historiadores do futuro chamarão este primeiro século do terceiro milênio da Era Cristã?
Talvez o comparem à Idade Média (...) Ou simplesmente ele será chamado de era do obscurantismo, período de retrocesso moral, fase do declínio civilizatório.
Não se consegue exercer futurologia com nível ótimo de acerto. A História registra previsões que nunca se concretizaram e surpresas imprevisíveis. O certo é que a Humanidade tem muito a lamentar se estiver atenta ao que ocorre em todo o planeta. Em nível macro e micro. Nos Estados, nas nações, nos grupos étnicos, nas maiorias e nas minorias. Mas também na família, na situação de quem vive só e no recôndito de consciências que não perderam a capacidade de pensar.
Isso tudo por falta de algo muito repetido e pouco vivenciado: a ética. Não que ela tenha deixado de frequentar as promessas. Ao contrário: a ética aparece em todos os discursos. É apontada como aquilo que falta para o mundo ser melhor. A cada desatino - ... - alteiam-se as vozes dos moralistas a invocar a necessidade de um repensar comportamental. Ética, infelizmente, é moeda em curso até para os que não constumam se portar eticamente. Na verdade, quem menos tem ética, mais a cobra dos outros. Não raro as proclamações morais mais enérgicas proveem de pessoas que nunca levaram ética a sério. Compreensível, por isso, que muitos já não acreditem na validade deste propósito. Trivializou-se o apelo à Ética, para servir a objetivos os mais diversos, nem todos eles compatíveis com o seu significado.(...) Ética no Brasil sofre de anemia. Já se disse que ela é anoréxica. Fenômeno que parece ocorrer também com outros vocábulos, quais JUSTIÇA, LIBERDADE, IGUALDADE, SOLIDARIEDADE E DIREITOS HUMANOS.
A invocação exagerada a tais vocábulos (...) conseguiu banalizar seu conteúdo. Encontram-se em todos os discursos, ensaios e manifestações. Debilitam-se as fronteiras de sentido e eles passam a ser conceitos ocos. Todos querem se valer do prestígio de seu conteúdo. Ante o pronunciamento de tais verbetes, os ouvidos se refugiam ao abrigo da insensibilidade. Já não se mostram suscetíveis de causar emoção. A repetição tende a não causar impacto. (...) Ouvir falar em ética irrita, cansa, incomoda. A reação vai da insensibilidade ao desprezo.
(...)
O essencial é reconhecer: nunca foi tão urgente, como hoje se evidencia, reabilitar a ÉTICA em toda a sua compreensão. A crise da Humanidade é uma crise de ordem moral. Os descaminhos da criatura humana, refletidos na violência, na exclusão, no egoísmo e na indiferença pela sorte do semelhante, assentam-se na perda de valores morais. Alimentam-se da frouxidão moral. A insensibilidade no trato com a natureza denota a contaminação da consciência humana pelo vírus da mais cruel insensatez.(...) É paradoxal assistir à proclamação enfática dos direitos humanos, simultânea à intensificação do desrespeito por todos eles. De pouco vale reconhecer a dignidade da pessoa, insculpida como princípio fundamental da República, se a conduta pessoal não se pauta por ela."

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